Vou para a rodoviária, minha passagem já está comprada e muito provavelmente o ônibus lotado indo pra São Paulo. Singelas 15 horas me aguardam à frente na estrada. Sento em minha poltrona (lado do corredor), ligo o mp3, me acomodo e “êpa ninguém do meu lado, maravilha! Dá pra viajar mais confortável”… Mas como dizem… é melhor não falar nada.
Na cidade seguinte, mais algumas pessoas entram e uma jovem entra, nada de anormal… nem o fato de ela estar um pouco acima do peso chama a atenção. Ela parece simpática (como toda gordinha deveria ser). Ao se aproximar, revela que seu lugar é o ao lado do meu.
E aqui, antes de continuar, faço uma pausa.
Nada contra gordinhos. Tenho muitos amigos gordinhos, gordões e barriginhas de pochete… todos os tipos. Meu problema é com gente sem noção.
Ela pede licença. Me levanto, ela senta, e então percebo que é algo além de “estar acima do peso” que se assenta ao meu lado… a poltrona não a comporta como deveria… RESULTADO: me sobra pouca poltrona num ônibus sem poltronas livres para alternar. 15 horas de viagem, um “bum” fora da poltrona, sendo ainda assim expremido e comprimido contra o braço oposto do lugar que deveria ser meu! Tudo isso com um temperinho especial de roncos e gemidos constrangedores da mesma pessoa.
Me senti como o Espírito Santo, que, sem querer banalizar, é tantas vezes apagado, expremido e empurrado dentro de nós por nosso grande e obeso ego sem noção. Pior que não dormir uma noite inteira e já chegar para trabalhar por conta de uma pessoa sem noção do lado… é não ser utilizado por Deus em todo nosso potencial!