Política é um assunto complexo e delicado. Todos sabemos que, principalmente num contexto brasileiro, temos um histórico de corrupção, engano, falcatrua, e jeitinho… muito jeitinho. Mas o mundo também está vivendo um momento de definições no reinado político. Uma série de países estavam vivendo um momento delicado politicamente mesmo antes do COVID-19 se tornar algo de preocupação mundial: Alemanha com suas questões de imigração; o Reino Unido com o Brexit; os EUA com sua briga Democratas versus Republicanos. E, claro, incluindo o Brasil com sua sucessão de investigações, impeachment, e eleições polemicas.

Os eventos da pandemia e as consequências dela potencializam os sentimentos de medo, autodefesa e acusações. E no meio disso tudo, uma fonte de pensamento e opinião parece estar fora da roda de conversas – a igreja evangélica.

Eu não sou especialista em politica ou nada do tipo, nem quero cair na cilada do Efeito Dunning-Kruger porque seria ingenuidade da minha parte querer me mostrar especialista no assunto. Mas o fato é que a democracia moderna ainda é um bebe se considerarmos toda a história de sistemas políticos no mundo. A democracia moderna ainda é um modelo em evolução. A democracia como temos hoje não é 100% equiparável à democracia do período romano, mas certamente é uma releitura daquela primeira. Por outro lado, foi profundamente influenciada por princípios valorizados e exaltados pela Reforma Protestante – como o valor individual e inérito do ser humano. Com a Reforma, o desejo que pessoas tivessem igual acesso à fé e a Deus levou reformadores a repensarem o que significava ser humano, ser cidadão, e as aplicações disso para a sociedade onde estas pessoas viviam.

Até então não havia uma noção de “estado laico” ou um “estado secular.” Fazer parte de uma nação significava também aceitar valores, padrões morais, e é claro, a fé daquela nação. Qualquer abordagem de sistemas e nações do passado que fale de uma “nação laica” ou qualquer coisa do tipo é uma tremenda ingenuidade anacrônica. Os reformadores entenderam que as autoridades governamentais eram importantes, mas que deveria haver uma separação clara entre Teologia e o Estado – principalmente porque eles não queriam cair numa repetição da Igreja Católica Romana que caiu por vezes no erro de prejudicar sua teologia para obter vantagens políticas. Lutero desprezava a ideia de política influenciando teologia; os Anabatistas foram mais extremos ainda, eles entendiam que cristãos não deveriam ter qualquer envolvimento com politica e suas decisões, mas sen deixar de lado uma perspectiva que cristãos poderiam (e deveriam) mudar a ética e a prática de suas cidades através de sua influência social.

Tentando resumir, o sistema democrático moderno nasceu de uma junção do valor individual inerente do ser humano (por ser feito à imagem de Deus) e uma tentativa de um sistema onde as decisões tivessem uma participação mais igualitária na sociedade. MAS, não me entenda mal. Não estou dizendo que a democracia sempre foi uma perfeição desde seu inicio. Como disse, a história é cheia de manchas em suas páginas, e temos momentos onde poder e poderosos ignoraram o valor inerente do ser humano. Apesar de valores de igualdade, ela iniciou e caminhou por anos com desigualdades que são capazes de dar frio na espinha só de ouvir.

Mas o problema principal não é o sistema em si. Mas as pessoas operando e fazendo parte do sistema. Aliás, outros sistemas políticos em colapso tem o mesmo problema: o ser humano se tornando um autocrata retirando o valor e a “pessoalidade” do povo governado.

Como cristãos deveríamos ter uma posição mínima de vantagem quando falamos sobre política. Nós entendemos os conceitos de narrativa bíblica de Criação, Queda, Redenção e Restauração de todas as coisas; deveríamos por isso entender que não estamos ainda no estado de Restauração final de todas as coisas. Deveríamos entender que pessoas são caídas e precisam se encontrar com a realidade da necessidade de Redenção.

Deveríamos mais que tudo entender que o Rei esperado – que restaurará todas as coisas de forma final e permanente – ainda não está aqui, nem esteve nas eleições passadas e nem estará em qualquer eleição futura. Este que reinará com justiça e autoridade receberá o trono porque não há quem possa concorrer com Ele. E jamais deveríamos trocar aquele que reina eternamente por uma adoração a governantes falhos e temporários. Que nosso foco esteja constante. Que ao olhar para aqui, nossos olhos não sejam enganados pensando que as figuras que governam aqui tenham qualquer comparação com o Alfa e o Omega.

“E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.
E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.
E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida.
Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho.”

Apocalipse 21:2-7