anos-90-barrados-no-baileComo uma criança que vivia na igreja, quando pequeno ouvia em vários momentos expressões com relação aos jovens da igreja, tais como: “estes jovens de hoje em dia…” e coisas como “tenho medo do futuro deste país” falando sobre a pobreza intelectual, preguiça de raciocínio, falta de compromisso e, em alguns momentos, devassidão daqueles jovens (que na época se resumia a ir à praça depois do culto).

YC 4Ouvir isto sempre me fez ter medo do que aconteceria quando EU me tornasse jovem… ser jovem para mim era ter liberdade para chegar em casa a hora que eu quisesse e poder fazer o que quisesse… mas também ir à praça, sentar e me envolver na vida das pipoquinhas com queijo. Sim, tinha gente que fazia coisa pior; mas, como hoje, não dependiam de estar na praça para fazer.

Hoje em dia, escuto mais e mais o quão pobres intelectualmente, preguiçosos e descompromissados (além de, em alguns momentos, devassos) a juventude de hoje em dia é em comparação a antigamente… e o que sempre me perguntei é se era isso mesmo… se essa molecada crescendo – alguns já nascidos no século 21 – são realmente tão piores quanto seus pais, ou se hoje é apenas mais difícil de esconder. E, se isto é verdade (uma geração que só fica pior que a geração anterior), provavelmente nos tornamos uma igreja pior que Sodoma e Gomorra. Sempre me questionei se realmente é isto, ou se nossa leitura das gerações anteriores são melhores do que elas realmente foram… esta nostalgia sem defesa – porque o passado não pode voltar para se comprovar melhor ou pior. Tornam-se apenas lembranças ingratas e imateriais – tipo aquelas: “sempre chove no Finados”… mas é impossível chover em todo o território nacional no mesmo dia, que dirá no mundo; mas a gente guarda a lembrança ingrata.

E a tal da Juvenóia?

patricinhasBem, o divertido, foi esta semana descobrir que este desespero que bate ao olhar para a sociedade e se achar mais espertos que a geração anterior e mais sábios que a geração que se segue não é algo somente contemporâneo, mas é algo que vem de geração em geração desde muito tempo atrás. Vendo um video (desculpe, só em inglês por hora), descobri inclusive que ele tem nome! Esta sensação chama-se JUVENÓIA – um tipo de paranóia por se achar a geração ideal e medo que a nova geração não se encaixe nos meus moldes de prática. Os novos costumes, novos ritmos, músicas, livros, maneiras de se comunicar são pobres; e a frase “tenho medo do que irá acontecer no futuro” acaba por se tornar o chavão repetido. A geração de jovens dos anos 60 ouviu isto de seus pais quando começaram a ouvir Rock – aquilo não era música de verdade. A geração de jovens dos anos 80 ouviram que os novos estilos de Rock não era Rock de verdade, apenas barulho… e assim continua.

Smartphones-em-showsHoje ouço do medo que esta geração de adolescentes tem provocado com suas músicas de baixa qualidade artistica, excesso de informação, celulares, imaturidade, falta de compromisso, preguiça, … de como nem mesmo ir a um show esta geração sabe ir… com seus smartphones atrapalhando toda a visão.

Na minha época…

Engraçado que olhando para a Bíblia, o ser humano sempre foi preguiçoso, pobre de raciocínio, descompromissado e, MUITAS vezes, devasso. O padrão se repete com facilidade, e incrivelmente com enorme facilidade – mesmo depois de um tempo de reavivamento espiritual.

Medo da próxima geração não é suficiente para provocar mudanças reais. Como cristãos não devemos ter MEDO do futuro da igreja – pois Cristo é dono dela e já a preservou em tempos muito mais complicados. Tevemos ter medo da nossa visão a respeito da igreja e da juventude que também faz parte dela.

Precisamos aprender a nos comunicar com esta geração que tem crescido em nossas igrejas. SE eles não aprenderam sobre compromisso com Deus, leitura da bíblia, estabilidade… é provavelmente porque não aprenderam de nós (e aqui já me incluo apesar de ainda ‘jovem’) que somos mais velhos.

5131064113_ed59d19722Esta geração, mais do que nunca precisa ouvir menos “na minha época não era assim”, e ouvir “como você sonha com o futuro desta igreja?”, “como você sonha com o futuro desta sociedade?”, ou quem sabe “Como iremos ou podemos usar “X Assunto” para a glória de Deus?”. Possivelmente a sua geração também apreciaria se tivesse ouvido mais isto de seus anciãos.

Estás pregando o liberalismo!

Se estamos onde estamos sem conversarmos com estes desinformados, imagina o que aconteceria se utilizássemos aquilo o que os jovens querem dentro da igreja?! Isto se tornaria o maior bacanal de todas as eras!

…não… não é isto que estou falando. Estou tentando trazer nossa mente e raciocínio para aquilo que o profeta Malaquias disse:

Ele fará com que os corações dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para seus pais; do contrário eu virei e castigarei a terra com maldição. “ Malaquias 4:6
Não estou falando que devemos abrir mãos de princípios bíblicos para a vida da igreja, mas que a igreja precisa aprender a se comunicar com esta geração. Esta geração que lê a Bíblia no celular. Esta geração que faz check-in no culto com #louvaraDeus #queromais #vemdomingo #DEUStudopravida. Esta geração que posta video na internet sobre o que comeu durante o dia. Esta geração que quer estudar, mas não sabe quem quer ser na vida. Esta geração que precisa aprender a orar. Esta geração que quer tirar o pé do chão. Esta geração que cansa do mesmo assunto (Pentateuco, Reino Unido e Nascimento de Jesus) na EBD e quer aprender coisas consistentes, mas interessantes. Esta geração que se distrai no culto porque é monótono. Esta geração que não sabe direito o que é “ouvir Deus falar” porque Ele não tem Snapchat. Esta geração que pensa que video game não é coisa pra criança. Esta geração que quer fazer missões, mas os pais não deixam porque acham que os filhos são imaturos – mas também não dão ambiente para amadurecerem de verdade.

martinho lutero thug lifeDo que estamos falando então?

Estamos falando sobre ensinar fé e vida de santidade acima de usos e costumes da fé, explicar porque praticamos o que praticamos.
Falamos em voltarmos à igreja primitiva (ou à igreja da reforma)… a igreja primitiva se utilizava de lugares pouco usuais para pregar a palavra; a igreja da reforma utilizou em muitos momentos músicas seculares com letras cristãs para que aquela geração pudesse entender e cantar novamente… o próprio “hino da reforma” Castelo Forte era uma melodia popular da época. Outros tantos eram músicas “profanas” (por assim dizer) que foram “gospelizadas” (sei que o adjetivo não existe, ok?).
Vamos cantar no culto “beijinho no ombro” com letra gospel? É isso? Você vem me perguntar… Não tenho certeza disso… mas que precisamos aprender a dialogar com esta geração, precisamos.
Não podemos desenvolver uma Juvenóia arrogante envolta em uma aura de pseudo-santidade vinda puramente de tradição de “no meu tempo era melhor” e não daquilo que Jesus quer fazer nesta geração e nas sequentes.